JÁ NÃO HÁ SOCOS
Como assinalei no meu esgotado opúsculo intitulado "A Região de Basto e as Ferrarias entre Tâmega e Douro" até há bem pouco tempo abundaram no seio da nossa comunidade os tradicionais artesãos que junto à estrumeira do gado ou da adega mantinham " a sua loja de trabalho" apetrechada com os seus rudimentares, mas eficientes instrumentos de guiar ou consertar coisadas.
Já lá vai quase meio século que deferente à casa onde nasci, o saudoso ti António Juquim d'Oliveira tinha a loja de soqueiro ao lado da corte das vacas e amiudadas vezes eu lhe surgia curioso a bulir em tudo quanto fosse ferramenta: formão, enxó, serrote, arrancadeira e sovelas, mas eram com o mascote e as formas que me entretinha horas sem fim. Nas tachas, pregos, coiro e machada é que o mestre me ralhava de pegar.
Era um regalo ver-me no meio daquele monótono lascar e pregar do ti António Juquim!
Quando disso carecia, munido do serrote vinha fora e duns troncos de amieiro estendidos a um lado do quelho, retirava alguns rolos que com a machada rachava, a modos de achas pró lume. Depois empilhava essa madeira na loja e quando seca colocava na primeira acha à mão o molde do pé que com um lápis riscava. É a partir desta fase que a arte do soqueiro se vai projectar na peça a construir.
Com a machada a desbastar até dar o formato mais ou menos aparente, entra depois a serra em função para abrir o salto. Alisa-se de seguida o tosco com auxilio da enxó e onde esta não chega vai o formão actuar para guiar os paus.
Talhado o coiro (cabedal) que fora amaciado com ajuda do mascoto de madeira e a arrancadeira de ferro, entra em acção a sovela e o pregar das tachas e pregos que vão dar por pronto um para de socos ou de socas bem atamancadas...
Deixou-se morrer a arte que na freguesia ainda o ti Manel Queirós, de Vilarinho, há pouco conheceu viva. Já não há socos.
CP.
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À MARGEM....
A gravura, ao lado, serviu de ilustração para um bem fundamentado relato que sobre certo acontecimento recente na nossa paróquia o TERRAS de BASTO fez. Em letra miudinha que é para ler com atenção, vejam na página seguinte os comentários do autor do texto sobre tudo quanto o impressionou e fez andar em aranhas para descobrir uma das mais antigas terras do concelho de Mondim.
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